O amplo acesso à informação colocou o ensino de pós-graduação numa posição completamente diferente do que se via há uma década. Esse acesso alterou a forma como o aluno estuda e obriga o professor a se situar nessa nova ordem, segundo Glauco Arbix, do Observatório da Inovação da USP (Universidade de São Paulo).
Embora muitas universidades não consigam acompanhar o ritmo das mudanças, o cenário força os programas de pós-graduação a se modificarem. “A tecnologia sacode as instituições de certa acomodação e exige que estejam atualizadas. Quem não segue esse ritual fica para trás”.
Depois de atualizar vários programas de pós de acordo com as novas habilidades que o mundo digital exige do profissional, Guy Cliquet, do Insper, identificou que ainda havia uma lacuna: faltava integrar o profissional da coleta de dados à realidade de executivos e analistas cujas tomadas de decisão implicam na vida ou na morte do negócio.
Foi assim que surgiu o curso data science e decisão, que fará sua estreia no segundo semestre de 2019.
“O programa traz uma abordagem da tecnologia de ciência de dados mais integrada ao negócio”, explica Cliquet, coordenador da pós-graduação do Insper.
Voltado para quem já tem conhecimentos nas áreas de computação ou estatística, o curso quer atender a uma demanda crescente com a expansão da internet: a de formar alunos capacitados a coletar e analisar dados gerados por usuários nas redes e transformar esse emaranhado em informações relevantes.
Ao fim do curso, o aluno será capaz de entender e ajudar na definição dos problemas e identificar modelos estatísticos que “consigam dar uma visão sobre como resolver a situação ou prever futuros eventos”, explica Cliquet.
Um exemplo são os tipos de informação deixadas nos rastros da navegação pela internet, como localização, preferências e rotina do consumidor. Isso pode ser a base para que uma empresa decida sobre investimentos em produtos que tragam mais retorno.
Para acompanhar o setor em que as inovações são praticamente diárias, o coordenador do programa de engenharia de software da PUC-SP, Carlos Eduardo de Barros Paes, está implementando uma reforma no currículo.
“São mudanças para atualizar a abordagem do curso, com metodologia de ensino focada no aprendizado baseado em projetos”, detalha Paes.
Para contrabalancear a dinâmica do mercado, que “quer tudo para ontem”, segundo Paes, a proposta do curso de especialização é mostrar à indústria que o desenvolvimento de software precisa da engenharia.
“Nossos alunos estão no mercado e buscam o curso para resolver falhas em softwares complexos que vão de sistemas que equipam aeronaves a gestão de uma cidade inteligente”, diz Paes.
Não é raro que projetos como esses já tenham apresentado problemas como custo elevado de tempo e dinheiro, perda de prazo e produto com baixa qualidade. “Por isso é importante que os cursos de pós estejam preparados para resolver essas falhas”, afirma.
Adaptar a formação de profissionais que não venham de áreas tecnológicas pode ser ainda mais desafiador.
À frente do MBA de tecnologia e ciências de dados aplicados ao direito da Unip, Maria Conceição Cassiolato diz acreditar que o advogado despreparado para lidar com a era digital, em breve, não terá condições de atuar.
“A arma maior que um advogado pode ter é o uso da tecnologia para obter informações”, afirma Cassiolato. “Não se pode pensar em contrato sem falar em blockchain, não se pode falar em pagamento no exterior sem falar em bitcoins”, diz, mencionando alguns pontos abordados no MBA, que está com a segunda turma em andamento.
Para explorar esses temas no direito, o corpo de professores conta com profissionais experientes em setores jurídicos de empresas de tecnologia. “Nossa proposta é oferecer um curso avançado, com professores que estão lidando com isso no mercado”, completa Cassiolato.